Gisela Simona (Pros) conquistou o respeito e o reconhecimento da sociedade atuando de maneira exemplar na defesa do consumidor. Por quase 10 anos, foi superintendente do Procon estadual, mostrando posições firmes e enfrentando grandes empresas e corporações, que insistem em desrespeitar os direitos dos clientes.
Este trabalho a levou à sua primeira eleição em 2018, quando concorreu ao cargo de deputada federal, obtendo 50.682 votos e ficando com a primeira suplência de quatro eleitos de diferentes partidos, graças as coligações partidárias. Naquele ano, quase 60% de seus votos, exatamente 33.762 foram de Cuiabá, o que fez dela a mulher, na história política do estado, com maior número de votos para deputada federal. Os números a cacifaram como potencial candidata à prefeitura da capital.
No início de 2020, se lançou candidata ao Senado na eleição suplementar que aconteceria em abril, mas com a pandemia a eleição foi adiada e coincidiu com as eleições municipais, a qual fez sua opção.
Cuiabana, 43 anos, advogada pela Unemat (Universidade do Estado de Mato Grosso), pós-graduada em Direito do Consumidor, servidora pública efetiva desde 2001, quando assumiu a carreira de conciliadora de Defesa do Consumidor do Procon em 2001, Gisela Simona tem posições firmes e um grande ideal de servir a sociedade.
Na disputa a prefeitura não tem amarras, não tem como aliados nenhum grupo ou político tradicional do estado, os chamados “raposas” da política. Na mais recente pesquisa eleitoral do IBOPE, ela bateria todos os demais candidatos em um eventual segundo turno, mas precisa chegar lá, lutando por uma das vagas. Começou com menos de 10 pontos nas pesquisas e foi, entre os quatro principais candidatos, a que mais teve crescimento durante a campanha.
Em entrevista ao MT Econômico, Gisela critica a forma como o atual prefeito se relaciona com os vereadores, em um “jogo de poder”, diz que as finanças do município são uma “verdadeira caixa preta”, acreditando que encontrará a prefeitura “quebrada”. Para ajudar os cuiabanos a saírem da crise econômica atual, tem como uma de suas propostas a valorização da cultura cuiabana e do ecoturismo como formas de geração de emprego e renda.
Confira na íntegra entrevista
MT Econômico: O que a senhora poderia/saberia dizer sobre a situação financeira da prefeitura de Cuiabá hoje?
Candidata Gisela Simona: Temos uma situação preocupante sobre a questão financeira de Cuiabá. Nós sabemos qual é o orçamento da capital, que está em torno de R$ 3,2 bilhões, mas um orçamento em que temos os dados divulgados muito preocupantes, porque há uma verdadeira maquiagem, falta transparência do orçamento, dos gastos da prefeitura de Cuiabá. Não somente sobre o quantitativo do que se gasta, a dívida, mas principalmente o perfil desta dívida. Os gastos em relação aos contratos de empréstimos que a prefeitura fez, as taxas de juros destes empréstimos, o tamanho da inadimplência dos fornecedores. Isso faz com que o futuro seja bastante preocupante. Mais ainda, sabendo que nós temos Leis de Carreira, aprovadas na prefeitura, que passam a vigorar em 2021, sem nenhum estudo de impacto financeiro, o que é preocupante. Temos a situação da rede escolar que, para o próximo ano, está despreparada para ter aula online, não foi aproveitado esse momento de pandemia para poder capacitar, formar os nossos professores e alunos para o processo de ensino online.
Temos outra situação preocupante que é o aumento da tarifa da água e do saneamento, que não foi feito este ano não teve aumento, mas terá acumulo no aumento no próximo ano.
Temos a máquina da prefeitura inchada, que foi aparelhada de forma partidária para as eleições de 2020. Temos compras feitas com superfaturamento, como o caso de medicamentos no período da pandemia da covid-19.
A situação financeira do município é realmente muito preocupante. O exercício fiscal de 2020 ainda não acabou. O que o Portal Transparência mostra não é a verdadeira realidade dos fatos e não há como termos, precisamente, o que de fato está acontecendo com os cofres da nossa cidade.
MT Econômico: Acha que pode encontrar problemas financeiros no município? A senhora irá encontrar uma cidade com muitas obras para serem concluídas, o município tem caixa para isso?
Candidata Gisela Simona: Podemos e vamos encontrar problemas financeiros no município de Cuiabá. Vejam que o foco da atual gestão é reeleger o atual prefeito. Eu tenho uma estimativa da receita, mas não tenho nem o tamanho e nem o perfil da dívida contraída na atual gestão. Somente o atual prefeito sabe, e ele oculta a realidade. Gasta mal, superfaturamento nos contratos, nos produtos que adquire para a prefeitura, a exemplo do que aconteceu, inclusive deu causa de afastamento do último secretário de Saúde. Neste caso houve superfaturamento dos medicamentos para tratamento dos pacientes com covid-19. O caixa da prefeitura é uma caixa preta. Temos indícios que já estão sendo investigados de ‘pedalada fiscal’ no final do exercício de 2019. E os números que nós encontramos no Portal Transparência estão maquiados, exatamente por causa das eleições. Tem uma bomba que vai explodir sim em 2021. Por isso, nós vamos ter que assumir a gestão e rever contratos, negociar dívidas com os fornecedores, vamos ter que trabalhar com muita coragem para reverter essa situação.
Quanto às obras, vamos sim continuar obras que são boas e tem de fato uma finalidade que contemple as necessidades da população. Aquilo que não for bom, aquilo que for só para satisfazer apadrinhamento político, isso nós não vamos continuar. Temos que excluir o que não presta com a corrupção e vamos valorizar aquilo que é bom para que de fato tenhamos uma prefeitura servindo a população e não fazendo se servir da política.
MT Econômico: O que o prefeito pode fazer para atrair novos investimentos e negócios para a cidade?
Candidata Gisela Simona: Para atrair novos investimentos e negócios para a cidade de Cuiabá, o poder público precisa desburocratizar os serviços públicos. Nós precisamos, por exemplo, o alvará de funcionamento, o alvará de construção, são serviços que a prefeitura fornece e que precisam ter mais agilidade. Nós temos que ter uma gestão eficiente e transparente e que tenha ética. Temos que melhorar a forma de compra da prefeitura, para que de fato tenhamos fornecedores interessados em vender e vender com preço justo para a prefeitura de Cuiabá. Mais do que isso, podemos melhorar a regularização fundiária da nossa cidade. Aqui o índice de regularização é muito baixo. A regularização agrega investimentos, porque o cidadão, com título da sua propriedade, investe nela, investe na construção civil, melhora sua moradia e faz seu próprio negócio. A regularização fundiária é uma vertente que vamos trabalhar. Também vamos buscar novas formas de gerar recursos e fazer o dinheiro circular internamente.
Queremos investir na agricultura familiar, no ecoturismo associado à cultura. Queremos muito fazer com que o turismo seja uma realidade em Cuiabá. Vamos trabalhar na cidade para que possamos, de fato, ter os pontos turísticos demarcados com placas de identificação. Queremos fazer a rota do turismo aqui na cidade de Cuiabá, com um city tour, para que as pessoas possam viver e visitar nossos pontos turísticos, visitar o comércio, visitar o Mercado do Porto e visitar locais importantes de Cuiabá. Queremos muito fomentar e melhorar o nosso centro histórico. Precisamos recuperar essas casas e locais abandonados do centro histórico para levar a população e os turistas para lá. Também ter atrações culturais no centro histórico diariamente ou semanalmente para atrair o público.
Vamos organizar a orla do rio Cuiabá. O rio é um bem tão rico na nossa cidade e estamos de costas para este patrimônio. Precisamos cuidar do Rio, no sentido de acabar com o lixo jogado, com o esgoto que é despejado, e a partir daí melhorar a orla e fazer dela um centro de riqueza gastronômica, valorizando e estimulado bares e restaurantes.
Queremos ter atrações culturais com agenda marcada para a população assistir. A região ribeirinha do São Gonçalo Beira-Rio precisa de apoio do poder público municipal, para prestar um bom serviço à população. Pretendemos um passeio náutico desde o São Gonçalo Beira Rio até Bonsucesso. Enfim, vamos incrementar o turismo na nossa cidade, para que o cuiabano frequente mais aquilo que é nosso, aquilo que é bom, e trazer pessoas de fora também para poder investir na nossa cidade então. Temos essa riqueza que é o ecoturismo, aliado a cultura, para que possamos realmente valorizar a nossa gente, valorizar a nossa memória, valorizar a essa riqueza que nós temos da cultura baiana da cultura pantaneira.
MT Econômico: Como a prefeitura pode ajudar economicamente a população neste momento, em que a pandemia provocou desemprego e o fechamento de negócios, do comércio? Quais os projetos e programas que podem ajudar na geração de emprego e renda?
Candidata Gisela Simona: Neste momento, pós-pandemia, nós temos o maior e melhor projeto de geração de emprego e renda para a cidade de Cuiabá, que é o Emprega Mais. É o programa que nós vamos oferecer qualificação, seja para a pessoa que está desempregada, seja para aquele jovem que nunca trabalhou e está em busca do primeiro emprego, para ele vir se qualificar. Durante a qualificação, já vai receber uma bolsa de R$ 500,00, em que ele estará se preparando para o mercado de trabalho e o Sine, que é o órgão municipal encarregado de fazer a intermediação de mão de obra, vai colocar a pessoa no mercado de trabalho.
Com isso, vamos unir a necessidade do comércio e da indústria, que quer um profissional qualificado, para trabalhar na sua empresa, e ao mesmo tempo vamos ter emprego para as pessoas que precisam voltar a trabalhar nesse momento pós pandemia. Uma outra vertente do Emprega Mais é a questão do microcrédito. Nós vamos oferecer microcrédito, com juros bem mais baixos do que os bancos oferecem ao cidadão, que terá um ano de carência para começar a pagar, poderá ser um microempreendedor, gerando renda, construindo o seu próprio negócio. Um exemplo são os salões de beleza, ou quem deseja ir para a construção civil e comprar seus primeiros equipamentos. Enfim um pequeno negócio, mas que dará para o sustento próprio e da família e, até mesmo, gerar mais empregos.
MT Econômico: Como pretende conduzir a relação com o Governo do Estado? Tem projetos e propostas que necessitam do apoio do Governo Estadual?
Candidata Gisela Simona: A relação com o governo do estado precisa existir. Vimos, nos últimos anos, as disputas entre essas duas máquinas, Estado e a prefeitura de Cuiabá, o que tem acabado com a prefeitura de Cuiabá. O governador quer implodir a prefeitura porque não quer ter o atual prefeito como concorrente nas eleições de 2022. Por outro lado, o prefeito de Cuiabá quer fazer a prefeitura de trampolim para 2022, por isso não conversa com o Governo do Estado, fato que tem gerado vários danos à população de Cuiabá. Com isso, temos a ausência de resposta em vários problemas importantes, como o VLT, obras da Copa que ficaram sem resolução, como é o caso do Aquário Municipal. Vejam que eu sou a única candidata que pode pôr um fim nessa disputa e realmente pensar e agir em prol dos cuiabanos. Nós queremos, dentre outras situações, criar um grande fórum, reunindo empresários, entidades do agronegócio, poder público estadual, poder público federal, para construir um plano de investimento na industrialização dos produtos do agronegócio em Cuiabá. Precisamos rever a questão dos incentivos fiscais, analisar compliance e a desburocratização da máquina pública. Nós precisamos agregar valor nas commodities produzidas pelo agronegócio. Atrair indústrias para a capital. Indústrias de etanol, biodiesel, processamento da carne e do têxtil. Vamos ter que gerar emprego e renda aos que amamos, para Cuiabá ser de fato a capital agronegócio. Para isso nós precisamos de um bom diálogo com o governo do Estado, com o governo federal, para que possamos e ampliar o desenvolvimento econômico da nossa cidade.
MT Econômico: Como pretende conduzir sua relação com a Câmara Municipal?
Candidata Gisela Simona: A relação com a Câmara Municipal tem que ser republicana. A nossa Constituição da República Federativa diz que os poderes são harmônicos, mas são independentes entre si. Temos que ter uma boa relação e temos que ter o foco na cidade de Cuiabá. Isso certamente vai nos conduzir a ter uma boa relação com a Câmara Municipal. Não podemos fazer o mesmo que existe hoje, que é um verdadeiro jogo de poder, onde para você ser atendido dentro da prefeitura de Cuiabá é necessário a presença de vereador. Para conseguir atendimento na saúde tem que ter tráfico de influência de vereador. Esse tipo de relação eu não concordo. Nós queremos sim ter uma relação de respeito, mas com foco sempre na cidade de Cuiabá.
Veja também nessa série de entrevistas especiais:
Entrevista com candidato Roberto França (publicada em 09/11)
Entrevista com candidato Emanuel Pinheiro (publicada em 10/11)
Entrevista com candidato Abílio Junior (será publicada 12/11)